“Empreender significa recomeçar todo dia”

Publicado em 31/07/2015

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Em pleno 2015, Esther Schattan manteve o plano de expansão da marca Ornare. Ela é sócia, com o marido Murillo, da líder de móveis planejados do segmento de luxo, conhecida pelo design contemporâneo e a ousadia nas cores. Os dois comandam uma rede de 13 lojas, sendo 11 no sistema de franquias. São dez em cidades brasileiras e três no exterior, em Miami, Dallas e Cidade do México. Os móveis da marca constituem uma das referências oferecidas pelos empreendimentos imobiliários de alto padrão para atrair os compradores do topo da pirâmide. Este ano, o plano de expansão apresentado pela empresa prevê abertura de duas lojas no segundo semestre e acordos com incorporadoras americanas para fornecer os produtos Ornare aos compradores dos seus caros apartamentos. Embora a empresa não forneça os números de receita, o faturamento anual pode ser estimado em R$ 600 milhões. COLEÇÕES DA ORNARE TÊM PARCERIA COM PRINCIPAIS ARQUITETOS E DESIGNERS DO PAÍS Quem observa a trajetória da marca poderia considerá-la impermeável à crise. A palavra mais correta, no entanto, é vacinada. Esther, a co-fundadora, tem na ponta da língua as datas das crises econômicas vividas pelo Brasil nas três últimas décadas, pois coincidem com os fatos mais importantes da sua vida. Esta vivência motivou o convite há três anos para compor o grupo de conselheiras do programa Winning Women de aceleração de negócios promovido pela consultoria Ernest & Young. “CORAGEM E SANGUE FRIO SÃO ESSENCIAIS PARA EMPREENDER NO BRASIL” Recém-formada em engenharia química pela USP, Esther Schattan abriu a empresa Ornare com o marido Murillo, engenheiro eletrônico, pouco depois de se casarem. Era 1986, um ano inesquecível para quem viveu o Plano Cruzado, no governo Sarney, com uma inflação de 235% e nova moeda. O nascimento dos dois filhos, a implantação da fábrica e a abertura do showroom no Shopping D&D, em São Paulo, também coincidiram com crises – Plano Bresser, Plano Collor, crise asiática e por aí vai. “Coragem e sangue frio são tão essenciais para empreender no Brasil quanto capacidade de planejamento e gestão”, afirma ela. Por isso, não aceita uma das causas alegadas para a baixa presença feminina entre os grandes empresários - a de que teriam mais aversão ao risco do que os homens. Esther fala com conhecimento de causa: “Abri uma empresa com 23 anos. Arrisquei casamento, futuro profissional, bem estar da família. Não sabia o que ia acontecer no dia seguinte”, relembra. “Fizemos dívidas para abrir a fábrica. Enquanto via minhas colegas de faculdade em ótimos empregos, estava administrando o saldo negativo no banco. Todo mundo falava contra nosso esforço. Na época, nenhuma empresa dava o lucro que a inflação rendia." No fundo da fala gentil, elegante e empática de Esther, se ouve o espírito animal necessário para empreender. Coisa de família. “Meu pai viveu do próprio negócio, uma confecção de roupas masculinas. Todo mês era uma luta, todo mês começando do zero. Não é diferente comigo. Precisamos nos reinventar e recomeçar o tempo todo.” No início da Ornare, a empresária se desdobrava em todas as funções, só trocando os chapéus – atendimento, compras, financeiro, marketing, administrativo, comunicação, relacionamento. No fundo, são todas atividades relacionadas a vendas, algo que Esther vê sem mistério. “É uma coisa que se aprende.” Atualmente, cabe a ela tocar o marketing, o relacionamento com clientes potenciais e a organização de eventos. “APRENDI A COMBATER A ZONA DE CONFORTO” Um dos resultados da educação empresarial recebida por Esther na casa dos pais foi conseguir detectar uma zona de conforto e procurar escapar. Na empresa, isto acontece pela inovação ou pela diversificação. “Quando nos associamos, meu marido trabalhava na área de movelaria e queria fazer um trabalho mais sofisticado. Não se falava em mercado de luxo”, diz Esther. “A Ornare já surgiu com este perfil quando abrimos a primeira loja na rua Pedroso de Moraes, em São Paulo.” A convivência com a oscilação econômica do país fez a empresa estar sempre abrindo novos caminhos. Isto ocorreu pela diversificação de produtos, pela expansão de lojas, novos formatos de negócios e pela internacionalização. Desde a fundação, a Ornare encontrou seu caminho em uma relação umbilical com a construção civil. A estratégia de formar parceria com as incorporadoras se concretizou quando identificaram a falta de opção de móveis planejados com olhar de design, no boom de empreendimentos de médio e alto padrão nos anos 90. “Nosso desempenho podia ser previsto com bastante antecedência porque éramos procurados assim que ocorria a entrega da obra.” Isto valia para as épocas de alto e baixo crescimento. Para diminuir a dependência, há 10 anos, deram o primeiro passo na diversificação. Antes dedicados apenas a quarto e sala, desenvolveram as linhas de móveis para cozinha e banheiro. A ampliação exigiu o domínio de novas tecnologias para trabalhar com produtos para área molhada. Diário do Comércio

Sobre o autor

Alberto Spoljarick Neto

Alberto Spoljarick Neto é o gerente de marketing e eventos da Associação Comercial e Industrial de Mogi Guaçu. Formado em Publicidade e Propaganda e Relações Públicas pela ESAMC, ele continua se aperfeiçoando em tendências de consumo de mercado e as aplicando para os empreendedores de nossa cidade.