Não lute sozinho contra a recessão

Publicado em 03/10/2016

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Faz parte da natureza empreendedora acreditar que o negócio vai prosperar e que as dificuldades serão superadas, não importa quantos tombos se leve. Mas esse espírito desbravador -tão característico de empresários - foi ferido em uma recessão que atingiu negócios de importantes setores da economia, como o de construção civil, automotivo, infraestrutura e varejo. Diante da insegurança, o melhor a fazer no momento em que a economia para de piorar, é deixar a solidão das decisões e trocar experiências com outros profissionais. Quem recomenda é Mauro Johashi, sócio da consultoria e auditoria BDO, especializada no segmento de médias empresas (middle-market). Também engenheiro com experiência em finanças corporativas, Johashi observa o comportamento de empresários de negócios familiares há mais de uma década e constata a importância de buscar o networking e conhecimento. "A maioria dos empresários se sente sozinho e em momentos como esse. Por isso, é importante que ouçam opiniões diferentes ou mesmo conclusões que possam ou não reforçar sua visão - mas que podem render um insight do que ele deveria fazer na própria empresa para melhorar a eficiência e a performance. É fundamental que ele saiba que não foi só ele que errou", afirma. Johashi participará do módulo Finanças e Investimentos, programado para 27 de outubro, do Forum Empreendedor Vencendo a Crise, promovido pela Associação Comercial de São Paulo. As inscrições estão abertas. O especialista diz que é importante que o empresário faça um diagnóstico correto caso esteja enfrentando dificuldades financeiras desencadeadas durante a recessão. Para cada caso, há uma saída e até uma oportunidade. A seguir, ele discorre sobre as principais medidas. REESTRUTURAÇÃO OU RECUPERAÇÃO? Johashi diz que mesmo empresas bem preparadas financeiramente para enfrentar dificuldades foram pegas nessa recessão, sejam elas da indústria, comércio ou serviços. Por isso, muitas estão tendo de recorrer à reestruturação financeira ou à recuperação judicial, explica. O sócio da BDO explica que o que leva à primeira ou segunda alternativa é a situação do negócio e o perfil do empresário. Quando o empreendedor percebe rapidamente que as finanças estão se deteriorando, pode ter condições de buscar a renegociação nos prazos de pagamento com fornecedores, bancos e o parcelamento de impostos, evitando dessa forma que as dívidas cresçam exponencialmente. Em outras palavras, antes que o endividamento extrapole o faturamento, pode optar pela reestruturação financeira. “Há empresários que conseguem perceber o sinal amarelo com antecedência e buscam consultores financeiros para verificar a melhor solução”, diz. Mas quando esse sinal ficou vermelho, a recuperação judicial acaba sendo a única saída. Segundo dados da Boa Vista SCPC, os pedidos de recuperação judicial cresceram 70,4% no acumulado deste ano até agosto na comparação com igual período do ano anterior. De acordo com Johashi, o pedido de recuperação judicial muitas vezes ocorre depois da tentativa de realizar uma reestruturação financeira. “É o caso de quem tem um negócio rentável, mas no qual as dívidas com fornecedores, bancos e de impostos excedem o faturamento." Dependendo do grau dessa situação, a recuperação judicial poderá ajudar a manter a atividade do negócio e a preservar empregos. Ele afirma que a recessão mudou bastante a forma como empresas e bancos lidam com ambas as situações, tanto com a reestruturação financeira quanto com a recuperação judicial. “Os bancos estão aceitando negociar porque está ruim para todo mundo. O fornecedor quer continuar vendendo para a empresa em recuperação porque é um ciclo que não afeta apenas um segmento e sim muitos. E não só pequenas empresas, mas players de mercado. Por isso houve uma flexibilização. O banco segue o mesmo raciocínio, porque o que interessa é receber dos clientes”, afirma. A recuperação judicial ficou conhecida como um jeito de fácil de sair da crise nos últimos tempos, e disso ele discorda. “Isso não é verdade porque hoje notamos que o objetivo é contribuir com cada credor que está nesse processo, deixando todos pouco satisfeitos. Fornecedores e bancos tem compreendido que o objetivo é manter o negócio ativo." LIÇÃO DE CASA: TRANSPARÊNCIA CONTÁBIL Para o consultor, a grande lição de casa que fica dessa crise é a importância da transparência contábil para o empresário. Segundo ele, essa é uma dificuldade comum e muitos não sabem lidar bem com isso. A contabilidade fornece uma visão real da situação da empresa para que o empresário tome as decisões corretas do que precisa fazer. “Por mais que acredite que o produto ou negócio é rentável, existe uma relação entre rentabilidade, custo e despesa para girar o negócio. É preciso ter uma boa fotografia de como é a demanda do negócio para saber qual o nível de despesa que se pode ter”, afirma. Por isso é importante manter balanços contábeis bem organizados e com dados transparentes. Johashi diz que os empresários que buscam melhorar a governança corporativa podem até ter um negócio que opera no vermelho, mas podem encontrar investidores interessados por causa dos números confiáveis que apresenta. Diário do Comércio

Sobre o autor

Alberto Spoljarick Neto

Alberto Spoljarick Neto é o gerente de marketing e eventos da Associação Comercial e Industrial de Mogi Guaçu. Formado em Publicidade e Propaganda e Relações Públicas pela ESAMC, ele continua se aperfeiçoando em tendências de consumo de mercado e as aplicando para os empreendedores de nossa cidade.