Queda no PIB evidencia recessão em 2015

Publicado em 01/06/2015

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O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, que totalizou R$ 1,4 trilhão, recuou 0,2% no primeiro trimestre deste ano em relação ao quarto trimestre de 2014, informou nesta sexta-feira (29/05), o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) A queda de 1,6% no PIB no 1º trimestre do ano em relação a igual período de 2014 foi a quarta seguida e é a maior desde o segundo trimestre de 2009, quando o recuo neste mesmo tipo de comparação foi de 2,3%. Segundo Alencar Burti, presidente da ACSP (Associação Comercial de São Paulo) e da Facesp (Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo), "os números mais preocupantes são os relativos à formação bruta de capital e aos investimentos". Esses numeros, em retração, comprometem a retomada do crescimento. "A desaceleração do consumo das famílias e das vendas do comércio sinalizam que não há necessidade de nova elevação das taxas de juros para conter a demanda dos consumidores", acrescenta Burti. "O Índice Nacional de Confiança do Consumidor (INC) da ACSP/Ipsos atingiu seu nível mais baixo desde 2005, revelando que a demanda do consumidor continuará fraca e que o comércio - apesar das promoções e do sacrifício de margem - deve continuar com as vendas em desaceleração nos próximos meses, pois além do crédito caro e difícil, a massa salarial vem registrando queda”, diz. Diante desses números pessimistas sobre o PIB, o economista da ACSP (Associação Comercial de São Paulo), Emílio Alfieri admite que a recessão pode ser considerada um fato. “Não há recessão técnica ainda – com dois trimestres em queda”, diz. “Mas o Branco Central já está dando recados de que continua vigilante, ou seja, ele vai subir mais os juros. Com esses ajustes monetários ou fiscais, tudo indica que não se deve esperar uma recuperação imediata.” Todos os componentes da demanda caíram. O consumo das famílias, por exemplo, teve queda de 0,9%. Trata-se da primeira queda desde o primeiro trimestre de 2003. Para o economista, esse cenário é decorrente do aumento dos juros, da desaceleração do crédito para pessoa física, da queda da massa salarial, e do aumento do desemprego. “Além disso, temos que destacar a queda de 1,5% nas despesas do governo, onde já se refletem os ajustes. Ou seja, já estão represando o caixa, e não se pode dizer que o governo não está cortando na carne”, diz. No entanto, Alfieri projeta que os cortes sejam ainda mais drásticos e cheguem a 3,5% - que poderia ser resultado de uma severa revisão dos 100 mil cargos de confiança do governo. Os números desanimadores foram ancorados, principalmente, pela indústria e pelos serviços. O PIB industrial, segundo o IBGE, recuou 3% no primeiro trimestre deste ano em relação aos primeiros três meses de 2014, a quarta baixa seguida nesta base e a maior desde o segundo trimestre de 2014 (-3,6%). O resultado veio dentro do intervalo das estimativas dos analistas de 56 instituições consultados, ainda acima da mediana de - 0,5%. O IBGE revisou o PIB do primeiro trimestre de 2014 ante o quarto trimestre de 2013 para uma alta de 0,7%, contra elevação de 0,6% na leitura inicial. Com o dado divulgado nesta sexta-feira, o PIB acumula queda de 0,9% em 12 meses até o primeiro trimestre de 2015. SERVIÇOS CAEM E AGRONEGÓCIO AVANÇA O PIB da atividade de serviços caiu 0,7% no primeiro trimestre de 2015 em relação ao quarto trimestre de 2014. Na comparação com o primeiro trimestre do ano passado, o PIB de serviços mostrou queda de 3%. Já o PIB da agropecuária subiu 4,7% no primeiro trimestre de 2015 em relação ao quarto trimestre de 2014. Na comparação com o primeiro trimestre do ano passado, o PIB da agropecuária mostrou alta de 4%. A agropecuária foi o único setor sob a ótica da produção com alta no primeiro trimestre deste ano na comparação com os últimos três meses de 2014, sob influência de uma safra relevante da soja. "A soja teve uma safra relevante no primeiro trimestre deste ano, com ganho de produtividade e uma boa expectativa para este ano", afirmou a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis. "Além de ser a lavoura com maior peso na economia brasileira, tem expectativa de crescimento da quantidade produzida em 10,6% e na área plantada (4,7%), o que se traduz em aumento de produtividade". Mesmo apresentando números positivos, Alfieri não acredita que o segmento consiga sustentar uma desaceleração suave. “Isoladamente, o segmento representa quase 10% do PIB. Incluindo a agropecuária na conta conseguimos diminuir o problema, mas não acabar com ele”, explica o economista da ACSP. CRISE Alfieri resgata as crises de 2009 e 2003, para ilustrar os possíveis cenários atuais. Ele recorda que em 2009, adotaram-se as medidas anticíclicas, logo após a divulgação dos dados do PIB do primeiro trimestre, assim os juros caíram rapidamente e alguns compulsórios foram liberados. Já, em 2003, com a entrada do PT na presidência, houve um comprometimento em manter os contratos do FMI (Fundo Monetário Internacional), o governo apertou os cintos e entramos em recessão. Logo, os salários caíram e o índice de desemprego aumentou. “A verdade é que precisamos de ajustes, mas diante dos dados divulgados e com a liberação de um compulsório, fica a dúvida se o governo não está seguindo os passos do que foi feito em 2009. Qualquer previsão é muito difícil nesse momento”, diz. Diário do Comércio

Sobre o autor

Alberto Spoljarick Neto

Alberto Spoljarick Neto é o gerente de marketing e eventos da Associação Comercial e Industrial de Mogi Guaçu. Formado em Publicidade e Propaganda e Relações Públicas pela ESAMC, ele continua se aperfeiçoando em tendências de consumo de mercado e as aplicando para os empreendedores de nossa cidade.