Um rigoroso inverno para as vendas do comércio

Publicado em 17/06/2015

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Nem o Dia dos Namorados foi capaz de aquecer as vendas do comércio, que caíram em média 3,9% nos primeiros 15 dias de junho em relação ao mesmo período de 2014, segundo o balanço de vendas da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), elaborado com base em amostra do Estado de São Paulo, fornecida pela Boa Vista Serviços. Em âmbito nacional, as vendas do varejo restrito (que não inclui veículos e materiais de construção) caíram 0,4% em abril na comparação com março e 3,5% na comparação com abril de 2014, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). As perspectivas para este ano é de que esse movimento continue como efeito da redução da massa salarial, das dificuldades no crédito e dos juros altos. Mas o que ainda pode amenizar o recuo, de forma pontual no mês de junho, é a chegada do inverno. “Os dados da primeira quinzena de junho não podem ser projetados para o resto do mês. Se o clima frio na capital persistir até o fim de junho, os consumidores podem se animar para as compras de produtos da moda outono-inverno e, assim, as vendas poderão apresentar melhores resultados no fechamento do mês”, diz Alencar Burti, presidente da ACSP e da Facesp (Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo). Segundo o balanço da ACSP, as vendas a prazo caíram 6,9% sobre a primeira quinzena de junho de 2014. Emílio Alfieri, economista da ACSP, diz que esse recuo pode ser explicado pela alta dos juros e o aumento do desemprego. "Tudo isso gera insegurança no consumidor. Além disso, o crédito, muito utilizado para financiar os bens duráveis está mais restrito e os preços de alguns produtos, como os eletrodomésticos, estão mais altos em relação ao ano passado por causa do retorno do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados)", avalia. Ele diz que a base de comparação é o ano passado, quando na véspera da Copa do Mundo, havia isenção de imposto para produtos da linha branca. A linha marrom, por outro lado, também foi incentivada nas vendas a crédito. Na comparação com a primeira quinzena de maio, as vendas a prazo caíram 1,3%. A pesquisa sinaliza que o Dia dos Namorados de 2015 foi mais fraco para o comércio na comparação com o ano passado. Na primeira quinzena de junho, as vendas à vista registraram uma desaceleração de 0,9% ante 2014. O resultado sugere que os namorados estavam com menos dinheiro no bolso, em razão de fatores como a alta da inflação, o aumento das tarifas e a queda da massa salarial. Na comparação com a primeira quinzena de maio, as vendas à vista aumentaram 1,4% nos primeiros quinze dias de junho. A explicação, segundo Alfieri, é que o período teve dois dias úteis a mais. Já a inadimplência caiu 10,1% na primeira quinzena de junho e 7% na comparação anual. Segundo Alfieri, o indicador da ACSP não contabiliza o calote de dívidas bancárias, nem contas de consumo como as de luz, água e telefone. Basicamente contabiliza os carnês e uma explicação para a queda da inadimplência, nesse sentido, foi a redução do consumo e a menor concessão de crédito para a compra de bens. O índice que mostra a recuperação de crédito, ou os cancelamentos de dívidas, caiu 10,2% na primeira quinzena de junho sobre igual período de maio. Na comparação anual, o recuo foi de 10,7%. Os resultados indicam que o consumidor está com menos dinheiro sobrando para renegociar as dívidas, seja por causa da alta das tarifas - que comem parte da renda - seja pelo aumento do desemprego. QUEDA GENERALIZADA Neste ano no qual a economia caminha para uma recessão, o varejo tem acumulado o pior resultado nas vendas em 12 anos, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em abril, as vendas do varejo restrito (que exclui os setores de veículos e materiais de construção) caíram 0,4% em relação a março, desempenho que apenas se repetiu dessa maneira em maio de 2003. O resultado interanual é mais desanimador. Na comparação com abril de 2014, o recuo nas vendas foi de 3,5%, a mais intensa desde agosto de 2003. Quando se trata do varejo ampliado, que abrange esses dois setores (veículos e materiais de construção), a queda nas vendas em abril ante março foi de 0,3%. Na comparação com abril de 2014, as vendas caíram ainda mais: 8,5%, a maior queda para um mês de abril em toda a série histórica do IBGE, iniciada em 2005. O recorde, explica o IBGE, foi puxado pelo setor de veículos, cuja queda de 19,5% ante abril de 2014 também foi a maior para o mês na série. O IBGE revisou o resultado das vendas do varejo restrito em março ante fevereiro. O índice caiu 1%, mais do que a queda de 0,9% apurada inicialmente. Já no varejo ampliado, as vendas em março ante fevereiro foram revisadas para queda de 1,8%, ante redução de 1,6% na leitura inicial. Burti, presidente da ACSP e Facesp, avalia que os dados do IBGE confirmaram as expectativas, por parte do mercado, de continuidade da desaceleração das vendas. Ele observa que as vendas estão sendo afetadas pelos juros elevados, pelas restrições ao crédito e a redução da renda das famílias. "Essa diminuição resulta da alta da inflação, da menor expansão do emprego e da queda da confiança do consumidor”, diz Burti. O presidente da ACSP e da Facesp afirma, ainda, que mais preocupante do que os resultados de abril é a constatação, baseada em indicadores preliminares da Associação Comercial, de que em maio e na primeira quinzena de junho a retração das vendas prosseguiu. "As perspectivas para os próximos meses são negativas, tendo em vista que todos os fatores que prejudicaram o comércio até agora tendem a persistir – e o quadro pode até se agravar, se forem aplicados novos aumentos nas taxas de juros. Por isso acreditamos que o Banco Central deveria fazer uma parada na política de elevação da Selic, pois a demanda dos consumidores já está bastante fraca e os aumentos dos juros inibem ainda mais os investimentos e pressionam a dívida pública”, afirma. Quem também compartilha da visão de que a dinâmica de preços, renda e crédito estão influenciando de forma negativa o desempenho do comércio é Juliana Paiva Vasconcellos, gerente da Coordenação de Serviços e Comércio do IBGE. "Preços, renda e crédito influenciam o desempenho (negativo) do comércio", diz Juliana. A gerente lembrou que a massa de renda real habitual dos trabalhadores, segundo a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), recuou 3,8% em abril ante igual mês do ano anterior. Em abril de 2014, o índice apontava alta de 3,6% no mesmo tipo de confronto. "O resultado de abril se deve claramente à conjuntura. A renda está caindo, o crédito está diminuindo, a restrição orçamentária é muito grande. Então, as famílias colocam o pé no freio do consumo", afirma Juliana. Um dos setores mais sensíveis à renda, os hipermercados e supermercados tiveram queda de 2,3% em abril ante abril do ano passado - a terceira seguida nesta comparação. Já os móveis e eletrodomésticos, que dependem de renda e crédito, tiveram recuo de 16% nas vendas no confronto interanual, a quinta baixa seguida. "A conjuntura econômica não está favorável ao comércio", reforçou Juliana. Com informações de Estadão Conteúdo

Sobre o autor

Alberto Spoljarick Neto

Alberto Spoljarick Neto é o gerente de marketing e eventos da Associação Comercial e Industrial de Mogi Guaçu. Formado em Publicidade e Propaganda e Relações Públicas pela ESAMC, ele continua se aperfeiçoando em tendências de consumo de mercado e as aplicando para os empreendedores de nossa cidade.