Como o e-commerce pode ajudar o varejo a vencer a crise

Publicado em 04/10/2016

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No mercado americano, o comércio eletrônico detém cerca de 20% do faturamento global do varejo. Em comparação, no Brasil, onde o segmento engatinha, está próximo dos 4%. A explicação é que ainda é um “adolescente” de 18 anos, como brinca Pedro Guasti, presidente e cofundador da E-bit, consultoria pioneira em comércio eletrônico que realiza semestralmente o Relatório Webshoppers. Com uma base de 42 milhões de usuários de internet, a pesquisa já está na 34ª edição. Mas, mesmo ainda jovem a política de oferecer promoções, descontos, formas de pagamento adaptáveis a qualquer bolso e produtos com alto valor agregado do e-commerce brasileiro puxaram o seu bom desempenho nos últimos anos, que até 2014 se expandia ao ritmo de 25% ao ano. A crise chegou, e o e-commerce sentiu: em 2015, o crescimento de vendas foi de 15%. Com as consequências da recessão -desemprego e queda na renda- a proporção caiu ainda mais. A expectativa é que fechará este ano com elevação de 8% nas vendas, ainda no azul e com o auxílio luxuoso do mobile commerce – ou m-commerce, que são as compras realizadas via dispositivos móveis, como smartphones e tablets. Em julho passado, elas representaram 23% das vendas do comércio eletrônico. Apesar da projeção menor, o número ainda é muito superior ao do varejo restrito (exclui automóveis e materiais de construção), que chegou ao fundo do poço no primeiro semestre, mas deve encerrar o ano em queda de 5,1% segundo estimativas da Associação Comercial de São Paulo (ACSP). “Os consumidores basicamente reduziram as compras em geral", diz Guasti. "Mas se tiverem oportunidade de comprar algo com bom preço e valor agregado alto, eles compram. É uma das grandes vantagens do comércio eletrônico.” Guasti, que também é presidente do conselho de e-commerce da Fecomercio-SP, foi responsável por estruturar as áreas de Marketing Comportamental, Inteligência de Mercado e a Universidade Corporativa do Buscapé Company. Guasti será um dos palestrantes da sessão inaugural do FE4 - Forum Empreendedor promovido pela ACSP, nesta quarta-feira (05/10). As inscrições estão abertas. Em sua palestra, o idealizador do Webshoppers mostrará aos empreendedores que há como vencer a crise, o tema do evento, com práticas simples e objetivas de gestão e planejamento. E que valem não só para o e-commerce, mas para varejistas em geral. Principalmente os pequenos. Questões como a medição do ROI (retorno sobre investimento, na sigla em inglês) das campanhas na internet, formas de negociar produtos para vender a preços competitivos, ou a oferecer algo mais, como personalização para não se tornar “mais do mesmo”, serão alguns tópicos abordados. “Se não for assim, o empreendedor não consegue margem, entrará numa guerra de preços e não vai conseguir fechar a conta”, diz. “De modo geral, não tem novidade: é ser racional e não gastar à toa. Nesse momento, o caixa é tudo”, diz. Em tempos de crédito restrito e juros altos, Guasti, que faz parte do Harvard Business Angels, também dará dicas sobre como uma pequena empresa pode se tornar uma possível candidata a um investimento anjo – e, quem sabe, deslanchar de vez os negócios. A seguir, confira trechos da entrevista com o especialista em comércio eletrônico: Qual a sua avaliação sobre atual cenário do e-commerce x o varejo? Pela primeira vez na história recente, o comércio eletrônico, que aqui no Brasil é um “adolescente” de 18 anos, cresceu apenas um dígito no primeiro semestre de 2016. Esse crescimento foi impactado diretamente pelo cenário macroeconômico, já que nós estamos em um ambiente de crise muito forte. Para ter uma ideia, até 2014 o e-commerce vinha num crescimento médio de 25% ao ano. Em 2015, cresceu 15%. E para 2016, a perspectiva é que esse crescimento seja de 8%. Quando a gente compara o e-commerce com números do IBGE referentes ao varejo restrito, nesse cenário há uma redução na casa de 5% prevista para esse ano. Se o e-commerce cresce e o varejo reduz, isso mostra que apesar da crise, o comércio eletrônico está ganhando espaço dentro do mercado. O que a gente também viu, apesar dessa redução de vendas, foi a entrada de consumidores que não compravam no comércio eletrônico. Devido à crise e à oportunidade de fazer bons negócios, o que ocorreu foi uma nítida migração de consumidores do canal offline para o online. Quem são esses consumidores? No primeiro semestre, o e-commerce apresentou um crescimento de quase 6%. Por outro lado, o volume de consumidores ativos ficou 30% maior em relação ao primeiro semestre do ano passado. Isso significa que uma boa parcela de pessoas que não compravam começou a comprar, ou que compraram alguma vez no passado voltaram a comprar. As pessoas basicamente reduziram as compras de forma geral, mas perceberam que, se tiverem oportunidade de comprar algo com bom preço e de valor agregado alto, elas compram - uma das grandes vantagens do comércio eletrônico. Quais as expectativas do setor para 2016? Nossa estimativa é fechar o ano com 8% de crescimento e um faturamento de R$ 44,6 bilhões. E temos aí uma data importante nesse semestre que é a Black Friday: nossas pesquisas deste ano mostram que a data pode ser muito boa devido à intenção de compra ser superior à do ano passado. Num universo de 42 milhões de consumidores ativos, 84% pretendem fazer uma compra na Blac Friday. Esse indicador é três pontos percentuais maior que o de 2015. Fazendo analogia com outra pesquisa, a da CNC (Confederação Nacional do Comércio), 85% dos consumidores afirmaram que comprariam se tivessem uma promoção ou um desconto. Ou seja, a gente percebe que o que ele está esperando é uma boa oportunidade para decidir comprar. Mesmo com a crise, quais os principais avanços do e-commerce nos últimos anos? A grande mudança que veio ocorrendo nos dois últimos anos e acelerou no último semestre do ano passado são as compras via dispositivos móveis. A participação no primeiro semestre de 2016 foi de quase 19%, mas nossa previsão era de chegar aos 20% no final do ano. Mas chegou aos 23% agora em julho, ou seja, tudo o que a gente imaginava já se antecipou. DIário do Comércio

Sobre o autor

Alberto Spoljarick Neto

Alberto Spoljarick Neto é o gerente de marketing e eventos da Associação Comercial e Industrial de Mogi Guaçu. Formado em Publicidade e Propaganda e Relações Públicas pela ESAMC, ele continua se aperfeiçoando em tendências de consumo de mercado e as aplicando para os empreendedores de nossa cidade.